Desmond Bates
está ficando surdo. E a crescente incapacidade de distinguir os sons não faz
outra coisa que não seja gerar confusão – para ele e para todos à sua volta. O
que seria um acontecimento dramático na vida de qualquer um toma, neste caso,
contornos irônicos: como professor de linguística aplicada, Desmond não tem
outra alternativa senão se aposentar, dado o catálogo de mal-entendidos
auditivos em que suas aulas se transformaram. O aparelho contra surdez nem
sempre funciona, e sua vida pessoal tampouco sai incólume: sem a rotina
acadêmica de um ano letivo, Desmond está cansado de ler spams sobre disfunção
erétil e de acompanhar a bem-sucedida carreira da mulher, sempre ocupada demais
para repetir o que acabou de dizer. Os papéis se invertem quando ele visita seu
octagenário e ainda mais surdo pai, que se recusa a buscar auxílio médico.
A existência
desse privilegiado e entediado inglês se vê ameaçada quando Alex, uma atraente
e desequilibrada aluna de graduação – numa festa barulhenta onde Desmond não
ouve nada direito –, faz ele prometer que a ajudará com sua tese. Porém, ela
parece buscar seu apoio também para questões não tão acadêmicas… Ou seria tudo
um grande mal-entendido?
Em seu 13o
romance, David Lodge, um dos grandes nomes das letras britânicas e um dos mais
bem-humorados romancistas da atualidade, coloca em cena um homem de meia-idade
tentando se apaziguar com a surdez e com a proximidade da morte, com a comédia
e a tragédia inerentes à vida humana. Mundialmente elogiado, Lodge consegue, em
Surdo mundo, tratar profunda e seriamente dos temas da velhice e da
mortalidade, numa obra ao mesmo tempo comovente e hilária.
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